Reflexões Jornalísticas

Cacoetes prejudiciais ao exercício do bom jornalismo.

Falhas da imprensa expõem fragilidade do jornalismo Matérias com números mirabolantes rechearam o noticiário sobre a nova economia, lembra o colunista da revista "Jornal dos Jornais", Luís Nassif. O jornalista critica a posição acrítica que os repórteres tomam, o que permite aos especuladores "exercitar os boatos da maneira mais impávida do mundo". A falta de bom senso e os erros constantes permitiram lucros indevidos e prejuízos injustificáveis. O bom repórter não pode considerar a ansiedade do mercado, que tem por hábito supervalorizar o que está vendendo. O tradicional ceticismo, comum em outras setores do jornalismo, também deveria ser exercitado no campo virtual, registra o jornalista. A imprensa falha também nas coberturas ao vivo, adverte outro colunista do veículo, Gabriel Priolli. Um repórter de TV é treinado a restringir sua história a, no máximo, 90 segundos. Em geral, ele é ajudado por um editor para estruturar os textos e as entrevistas. Na cobertura ao vivo, ao invés de condensar, ele é obrigado a estender a narração, contando todos os detalhes da rebelião ou do acidente, preenchendo silêncios e sustentando o link, sem recursos adicionais. Exige-se dele capacidade de narração e de descrição, habilidade em dosar informações e controlar a temperatura emocional do momento, observa Priolli. Sem treinamento específico para momentos como esse, o que se vê nas transmissões são repórteres que abandonam as câmeras e narram o que vêem, esquecendo do público em casa, que pode estar enxergando outra coisa. Abuso de interjeições e comentários pessoais, "denotando muito mais insegurança do que conferindo à narração a dose necessária de dramaticidade", são as cenas mais comuns. No vácuo Em meio a falhas evidentes na imprensa brasileira e aproveitando o cenário político, em que procuradores da República investigam o desvio de verbas públicas, o governo retoma o projeto da "Lei da Mordaça". Para o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Paulo Costa Leite, a proibição à juízes, promotores e procuradores de se manifestarem à imprensa sobre processos em andamento representa uma censura ao Poder Judiciário, sendo "inaceitável na democracia". "O Estado Democrático de Direito pressupõe liberdade de expressão", disse ele à "Folha de São Paulo". O jornal registra que o objetivo do governo ao pressionar o Congresso para a aprovação ainda este ano é "impedir a divulgação ampla de investigações como a do caso Eduardo Jorge". Nota do mesmo diário, cujo conteúdo é atribuído ao advogado e ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, entende que o momento não é oportuno. "Todo mundo vai imaginar que é por causa do Eduardo Jorge", deixou escapar. A imputação de crime às manifestações destas autoridades públicas está definida em dois textos, que tramitam no Senado. Um foi proposto pelo Executivo, aprovado pela Câmara e está paralisado na Comissão de Justiça do Senado (CCJ). O outro de iniciativa do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) foi aprovado pela CCJ e passará pela apreciação das duas casas. Mentiras e frivolidades Uma série de erros da imprensa foram registrados pela coluna "Contra Pauta" da revista "Jornal dos Jornais". Entre eles, o da revista "Veja", que, em duas páginas da sua edição de 24/5, imputou aos guerrilheiros colombianos da Farc o assassinato de uma mulher com um colar-bomba. Quatro edições depois, sem reconhecer o erro, a revista produziu matéria sobre a Colômbia, sem citar o caso. Em relação aos jornais, a "Contra Pauta" lembra que no Brasil não existem tablóides dedicados à fofocas, como acontece na Inglaterra e nos Estados Unidos. "Aqui os jornais sérios e de alto nível cumprem esse papel", diz coluna, lembrando da matéria "A Rainha das Quentinhas", na primeira página do "Jornal do Brasil", tratando da briga de duas emergentes cariocas. 

Fonte: ACESSOCOM

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